A Fita Branca | Raízes do mal!

“Quero contar os fatos estranhos que aconteceram em nossa aldeia. Talvez eles possam esclarecer uma série de acontecimentos que sucederam neste país”.

Vocês podem gostar, odiar, concordar ou discordar de nossas Observações. Mas uma coisa não se pode negar: somos versáteis. Se na última postagem falamos sobre a obra do ótimo John Hughes. Agora, o clima é mais pesado: o austríaco Michael Haneke.

A FITA BRANCA (2009) é o décimo filme dirigido por Haneke. Com um roteiro sem clímax, filmado em preto e branco em um ritmo lento (Chato? Nem um pouco!), aborda uma pacata vila onde começam a acontecer acidentes e situações trágicas.

Então junte toda a sua repressão familiar e venha se rebelar contra essa Observação!

CHOCAR É O LEMA

Vencedor do prêmio de melhor filme estrangeiro em Cannes e no Globo de Ouro, A Fita Branca é uma obra que usa o núcleo familiar como uma possível explicação para uma geração de jovens alemães marcada pela intolerância e radicalismo.

Ainda sobre o tema família, o primeiro longa-metragem do austríaco, O Sétimo Continente (1989), é sobre uma que resolve cometer suicídio. Ironicamente, o diretor brinca com o fato de na nossa sociedade moderna as pessoas ficarem mais chocadas com dinheiro sendo jogado na privada (cena do filme) do que pais se matando e tirando a vida de sua própria filha.

O assunto também é destaque em Caché, de 2005. Obra sobre um casal que recebe fitas anônimas de vídeo com filmagens de sua própria casa.

Os filmes de Haneke costumam deixar a plateia desconfortável.

Em Funny Games (2007), o cineasta quebra a quarta parede e usa o telespectador como testemunha da violência gratuita. “(...) o espectador se torna um cúmplice. Por isso as pessoas ficam tão chateadas. Porque eu as transformo em cúmplices e, depois, as repreendo por terem permitido que isso acontecesse. Foi essa a estratégia sórdida que usei (risos)”. afirma em entrevista dada, em 2009, ao site Goethe Institut.

EDUCAÇÃO E INTOLERÂNCIA

Os eventos de A Fita Branca acontecem em 1913 e não tem um personagem principal. A história é narrada, em flashback, por Ernest Jacobi, o professor da vila. Ele é quem guia o espectador sobre os acontecimentos. E não são poucos. Um médico que cai do cavalo por causa de um arame. Uma colheita é arruinada. Crianças são abusadas. Um pai espanca seu filho por ter roubado uma flauta e muito mais.

O clima de intolerância é presente o tempo todo. Uma das cenas principais mostra o pastor da vila dando uma bronca em seus filhos. À mesa de jantar, ele os pune por terem chegado tarde em casa: “Vamos todos para a cama com fome hoje. Sei que concordam que não posso deixar essa transgressão impune se quisermos continuar vivendo com respeito mútuo. Por isso amanhã, neste horário, na frente dos seus irmãos vou açoitar 10 vezes cada um de vocês”. Leve, não?

Além da surra, os dois filhos mais velhos vão ter que usar uma fita branca, que significa inocência e pureza, valores, segundo o pastor, esquecidos por eles. Um desses filhos é a enigmática Klara, sempre vestida de preto.

A moça parece estar envolvida em vários dos acontecimentos. Jacobi, logo no começo, pontua “se ainda me lembro bem, achei esquisito aquele grupo de crianças em volta de Klara não ter se dispersado ao sair da escola, como sempre, mas seguir caminhando, unidos até a saída da aldeia”.

Embora o filme seja ambientado pouco antes da 1ª Guerra Mundial, não há como não fazer analogias com o nazismo ou qualquer forma de totalitarismo. O clima de medo, tensão e repressão presentes na vila antecipam o clima, 25 anos antes, na Alemanha e Europa.

A própria fita branca parece ser uma clara referencia as estrelas de Davi que os judeus tinham que usar na época de Hitler.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assitir Haneke é sempre uma experiência marcante. Existem diferentes formas de violência e o austríaco sabe trabalhar com elas. A Fita Branca tenta achar as raízes do mal que viria assolar o planeta na metade do século XX.

Para isso, não entrou no campo político, bélico ou econômico. Entrou no âmbito familiar e nos costumes de uma pequena vila, usando um ambiente micro para tentar entender algumas das sementes de uma geração que viria a ser marcada pela intolerância e autoritarismo exacerbado. Vale a pena conferir!

A FITA BRANCA
Título original: DAS WEIßE BAND
País de origem: Alemanha
Ano de lançamento: 2009
Roteiro: Michael Haneke
Direção: Michael Haneke
Elenco: Christian Friedel, Ulrich Tukur

Filme observado por Tiago Oliveira.

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