Círculo de Fogo | Uma aventura em tamanho colossal

Criaturas gigantescas saem das profundezas do Oceano Pacífico causando pânico e destruição. A única defesa da humanidade são robôs colossais com forma humanoide comandados por pilotos destemidos.

Essa poderia ser a sinopse de um tokusatsu, principalmente de algum do gênero Super Sentai, e certamente não seria o primeiro. Mas não, o filme em questão é CÍRCULO DE FOGO, longa produzido nos Estados Unidos e dirigido pelo mexicano Guillhermo del Toro (Hellboy 1 e 2, O Labirinto do Fauno, Blade II), que chegou aos cinemas brasileiros em agosto de 2013.

Mas, afinal, porque houve tanto alarde sobre a aventura criada por del Toro? Ele realmente trouxe algo de novo ou apenas copiou e pasteurizou referências do Oriente com a pretensão de reinventar o gênero, como nós já vimos acontecer com o Godzilla de 1998?

Na Observação a seguir, iremos falar um pouco sobre esta obra e tentar responder a essas perguntas...

CONVIVENDO COM MONSTROS GIGANTES

O filme começa com a explicação do conceito que norteia todo o filme: a definição de Kaiju (monstro gigante em japonês) e Jaeger (palavra alemã para caçador). A seguir, temos uma narração em off, feita pelo personagem principal, Raleigh Becket (vivido por Charlie Hunnam, da série Sons of Anarchy), que situa o espectador sobre – com o perdão do trocadilho – o tamanho da ameaça. Somos apresentados então à ‘fenda’, um portal para outra dimensão no fundo do Oceano Pacífico de onde se originam os Kaiju.

É então que se cria a iniciativa Jaeger. As nações do mundo concordam em acabar com suas diferenças para construir os Jaegers: robôs controlados por dois pilotos cujas mentes estão unidas por uma ponte neural. Um vê os pensamentos do outro e quanto mais as mentes se abrem, melhor a máquina luta. Logo de início é explicada a necessidade de dois pilotos: um comanda o lado direito e o outro o lado esquerdo do Jaeger, de maneira semelhante ao cérebro humano, uma vez que o peso é demais para um só. Becket também conta que a medida que os Kaijus vão sendo derrotados, cresce o prestígio dos pilotos, que se tornaram celebridades. Estávamos vencendo a guerra, mas aí tudo mudou.

Nesse momento, acompanhamos Raleigh e seu irmão Yancy (Diego Klattenhoff de Depois da Terra e Xeque-Mate) se preparando para travar combate mais uma vez dentro do Jaeger Gypsy Danger. O ano é 2020 e o local Anchorage, no Alasca. Já o inimigo é um Kaiju com a cabeça no formato de lâmina, chamado apropriadamente de Knifehead. Enquanto o monstro avança, vemos o complexo processo de preparação dos pilotos para a batalha, que só termina quando as portas do ‘hangar’ são abertas para que o Gipsy Danger comece a caminhar mar adentro.

O embate começa e a euforia de Raleigh para derrubar o quinto Kaiju dá lugar ao desespero. Uma reviravolta na luta acaba acontecendo a favor do Kaiju, que desmembra o Gipsy Danger e ataca mortalmente sua cabeça, arrancando Yancy de dentro da cabine. O monstro é morto com o último disparo do canhão de plasma do Jaeger e a sequência inicial termina com Raleigh carregando o robô sozinho até a costa gelada do Alasca. Gravemente ferido, o piloto é socorrido por um homem e um garoto e se dá conta da terrível verdade: seu irmão está morto.

A RESISTÊNCIA

Cinco anos se passam e Raleigh está trabalhando como operário. Além do projeto Jaeger, as nações concordaram em construir uma gigantesca muralha para barrar o ataque dos Kaiju. E, como ele mesmo explica no início do filme, os irmãos Becket não eram os atletas da escola, mas eram bons de briga, o que lhes garantiu uma vaga como pilotos de Jaeger, mas não qualificava Raleigh para algum outro emprego. E a verdade é que ele mesmo não queria. Seguir a construção da muralha garantia as refeições e lhe mantinha em constante movimento, sem chance para criar laços.

Mas ele estava prestes a ser chamado de volta à batalha. O Marechal Stacker Pentecost (o sempre altivo Idris Elba de Prometheus e dos dois Thor) lhe pede para voltar a pilotar o Gipsy Danger escolhendo um novo parceiro para entrar com ele na máquina. Becket inicialmente reluta, claro, afinal ainda estava conectado à mente de seu irmão quando ele morreu, e não quer ter essa sensação de novo. O Marechal Pentecost argumenta dizendo que o mundo está acabando mesmo e ele agora tem de novo a chance de poder morrer em um Jaeger, lutando. Mas, o que realmente convence Raleigh é ver pela TV um Kaiju ultrapassar a muralha de Sydney como se fosse papel e ser derrubado pelo Stryker Eureka, Jaeger desativado no dia anterior. Seu trabalho atual era inútil, portanto. Pilotando, ele poderia fazer alguma diferença.

Quando chega à base na costa de Hong Kong, na China, Raleigh descobre que o local não tem só papel estratégico, mas é a última linha de defesa. O programa Jaeger foi realmente encerrado e os últimos três robôs restantes foram transferidos para lá. Quatro, quando incluímos o reconstruído Gipsy Danger. Corredores e elevadores enferrujados mostram que a Iniciativa Jaeger não é mais um exército, como costumava ser. Agora, eles são apenas a resistência, se virando como podem para derrotar Kaijus e fazer com que o mundo exista por mais um dia.

Há um plano em andamento para atacar a fenda diretamente e ele promete ser diferente de tudo que já foi tentado antes. Mas, Pentecost é vago acerca dos detalhes. Os demais Jaegers são o russo Cherno Alpha, o primeiro Jaeger construído, que defendeu seu território por seis anos sob o comando dos irmãos Sasha e Alexis Kaidavovski; o chinês Crimson Typhoon, pilotado pelos trigêmeos Wei Tang. Este é o único com três pessoas no comando e conta com três braços, dois do lado direito. Há também o australiano Stryker Eureka, o mais moderno Jaeger em operação, pilotado pelo Comandante Hercules Hansen (Max Martini de O Resgate do Soldado Ryan e da série The Unit) e seu arrogante filho Chuck (Rob Kazinsky das séries de TV True Blood e Brothers & Sisters).

Na base, o piloto ainda conhece a assistente do Marechal Petecost, a jovem Mako Mori (Rinko Kikuchi, de 47 Ronin e Os Vigaristas) responsável pelo programa de restauração do Gipsy Danger e por recrutar os candidatos a segundo piloto. E também os cientistas Newton Geiszler (Charlie Day de Quero Matar Meu Chefe e da série It’s Always Sunny in Philadelphia) e Herman Gottlieb (Burn Gorman, que também vem das séries de TV, como Revenge e Game of Thrones). A dupla, por sua vez estuda a fisiologia e o comportamento dos Kaiju para criar previsões dos próximos ataques e, claro, encontrar maneiras mais eficientes para matá-los. Segundo Geiszler, os monstros são geneticamente iguais e seria possível saber como eles pensam usando a tecnologia da ponte neural, teoria contestada por Gottlieb, que por sua vez, fez cálculos que preveem o ataque de dois Kaijus ao mesmo tempo na próxima semana.


UMA NOVA PARCERIA

Começam os testes para segundo piloto. Nas “audições” Raleigh luta com bastão para ver a habilidade dos candidatos em acompanhá-lo. Vencendo um por um facilmente, o piloto desafia Mako para o duelo e, sob os protestos de Stacker Pentecost ambos lutam e mostram sincronia perfeita. No entanto, a entrada da jovem japonesa no cockpitt do Gipsy Danger estava fora de cogitação.

No entanto, a escassez de pilotos disponíveis faz com que o Marechal volte atrás e permita que ela e Raleigh façam o teste de conexão com o Jaeger norte-americano. Todavia, as coisas não poderiam dar mais errado. Mako acaba desenterrando a memória de quando perdeu seus pais em um ataque Kaiju e ativa o canhão de plasma do Gipsy Danger. Na ponte neural, Becket fica sabendo que a garota foi salva do monstro por um robô pilotado por Stacker Pentecost e que ele acabou adotando e criando a menina desde então. Felizmente, o robô é desligado pouco antes da ar,a disparar, mas a capacidade dos dois pilotos passa a ser questionada.

Enquanto isso, o doutor Geiszler prova sua teoria ao se conectar com cérebro de um Kaiju usando a tecnologia da ponte neural. Ele descobre que os monstros fazem parte de uma força de invasão enviada por seres de outro universo e não apenas animais movidos por um instinto básico. Começa então uma caçada em busca de um novo cérebro de Kaiju para repetir o feito e conseguir mais informações. Isso os leva até Hannibal Chau (o sempre hilário parceiro de Del Toro desde Blade II, Ron Perlman protagonista dos dois filmes do Hellboy), um vendedor de órgãos de monstro, que opera em Hong Kong.

Contar mais a partir daqui estragaria a diversão de quem ainda não viu o filme, mas eu já adianto que os quatro Jaegers participam das sequências finais em uma batalha que faz qualquer um que cresceu assistindo Jaspion tirar o chapéu e torcer por eles.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O grande trunfo de Círculo de Fogo é que ele não tem a pretensão de ser sombrio, é mais puxado para um filme de terror, abordagem que já vimos em Cloverfield (XXX) e que parece ser a tônica do novo Godzilla, que chega às telonas em maio. Os monstros assustam pelo tamanho, mas encantam pelo design original, diferente de outras criaturas já mostradas. Del Toro também não cai na armadilha de reinventar o gênero. Segundo ele deixou bem claro, Círculo de Fogo é um presente a todo mundo que cresceu vendo desenhos e filmes japoneses com monstros e robôs gigantes.

E como uma homenagem que se preza, a película está cheia de homenagens a grandes títulos do gênero. O mais marcante é Neon Genesis Evangelion, por conta da necessidade de 'sincronia' entre pilotos e máquinas. Mas vemos também a herança do gênero Super Sentai e dos 'guerreiros espaciais' na forma da espada retrátil presa nos pulsos do Gipsy Danger. A arma era opção mais comum para dar cabo das criaturas gigantes, como já faziam os Changeman e o Gigante Guerreiro Daileon do Jaspion.

Todavia, quem espera um longa infantilizado e caricato se surpreende com Círculo de Fogo. O filme traz uma trama, que embora seja de fácil compreensão, é inteligente e conta com diversas questões interessantes como pano de fundo, como, por exemplo, os protestos que acontecem pela ineficácia da muralha e a preocupação dos políticos em não gastar dinheiro demais no programa Jaeger. Também é interessante ver que, mesmo sob a ótica de que o mundo venceu suas diferenças e criou juntos os robôs, vemos nitidamente quais países não abririam mão de ter um Jaeger para chamar de seu, em uma nítida, mas velada, corrida armamentista.

Outro ponto interessante é que o roteiro de Travis Beacham e do próprio del Toro não têm buracos. Questões práticas como “Por que não atacar a fenda logo de uma vez?” ou “O que acontece com os monstros mortos?” são respondidas. E isso acontece tanto por simples diálogos como por cenas mais trabalhadas no desenrolar da trama com explicações que satisfazem o espectador.

O nome do filme também é uma boa sacada: Círculo de Fogo (e também Pacific Rim) é o nome dado à região do Oceano Pacífico com diversos vulcões submersos e forte incidência de maremotos, por conta das placas tectônicas do local. Japão, Estados Unidos, Canadá, Filipinas e outras localidades que aparecem no longa são regiões que estão próximas do Circulo de Fogo do Pacífico.

Para finalizar, Círculo de Fogo não é a nova e definitiva forma de se fazer cinema com monstros gigantes. E ele nem pretende ser. Mas, ainda que tenha vários clichês e referências logo identificadas pelos já iniciados no universo dos animes e tokusatus, consegue ser um espetáculo de encher os olhos – e a tela.

CÍRCULO DE FOGO
Títulos Original: Pacific Rim
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Travis Beacham
Lançamento: Julho de 2013
Elenco: Charlie Hunnam (Raleigh Beckt), Rinko Kikuchi (Mako Mori), Idris Elba (Marechal Stacker Pentecost), Diego Klattenhoff (Yancy Beckt), Max Martini (Hercules Hansen), Rob Kazinsky (Chuck Hansen), Charlie Day (Dr. Newton Geiszler), Burn Gorman (Hermann Gottlieb) e Ron Perlman (Hannibal Chau)

Filme observado por Carlos Eduardo Bazela.

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