Akihabara Majokko Princess | Virando japonês


Convite para apresentação de Akihabara Majokko PrincessA exposição Pop Life: Art in a Material World (Vida Pop: A Arte em um mundo material, em português) foi montada originalmente para o Tate Modern, em Londres, com o objetivo de mostrar o nascimento, o crescimento e o boom da arte pop em uma cultura comercial. “Um bom negócio é a melhor arte”, dizia Andy Warhol (pintor e cineasta, principal referência do movimento Pop Art / 1928-1957) em frase que acabou utilizada como chamativo para a mostra.

Em meio a tantas obras apresentadas destacamos apenas uma, não por ser melhor que as demais, mas por ligar mais com a ideia proposta no blog: AKIHABARA MAJOKKO PRINCESS.

O vídeo foi dirigido pelo estadunidense McG (produtor executivo das séries O.C. – Um Estranho no Paraíso, Nikita e Supernatural e diretor do filme O Exterminador do Futuro – A Salvação), com a produção do japonês Takashi Murakami (prolífico artista com atuação em vários campos como pintura, escultura e até anime).

Esta Observação mostrará o fenômeno dos otakus a partir da análise deste curta-metragem.

LOCALIZANDO A OBRA

Bairro de Akihabara, no Japão
Akihabara, ou apenas Akiba, é uma zona comercial no Japão conhecida por ser especializada em produtos eletrônicos. Desde os anos 1990, em decorrência do fortalecimento dos animes e dos videogames, este distrito de Tóquio tem se destacado bastante por reunir um extenso grupo de otakus. Além de chamar bastante a atenção de turistas.
Bairro de Akihabara no Japão
Com a chegada do novo século, e com a popularização cada vez maior no mundo dos mangás e animações japoneses, o número de lojas voltadas para os fãs destas obras tem aumentado. Por outro lado, o comércio de eletrônicos, embora ainda seja em grande volume, têm caído ano a ano em virtude da queda nas vendas de computadores, em detrimento de novas tecnologias.
Akihabara no Japão
O local também é conhecido por vender robôs e produtos voltados à robótica em geral.

Em uma comparação grosseira – devido às proporções –, poderíamos dizer que Akihabara seria o equivalente no Brasil a união dos bairros Santa Ifigênia e Liberdade na cidade de São Paulo.

A GAROTA MÁGICA DE AKIHABARA

Convite para apresentação de Akihabara Majokko PrincessEm Akihabara Majokko Princess (algo como, Princesa Garota Mágica de Akihabara) três pontos importantes se destacam:
1º) Kirsten Dunst vestida de princesa mágica;
2º) cantando a música Turning Japonese da banda The Vapors (falarei dela em alguns instantes);
3º) pelas ruas do bairro Akihabara, com vários otakus a sua volta.

Mas o que pretendia McG e Murakami com este curta-metragem?

A proposta original, assim como de toda a exposição Pop Life, é fazer refletir sobre os artistas que se integraram na cultura de massas e no comércio para a construção de suas marcas. Ao optarem por filmar em Akihabara, McG e Murakami ganham espaço nestes dois aspectos, tanto na cultura de massa (otakus) quanto no comércio (venda de animes, mangás e vídeo games).

Vale mencionar que Otaku é um termo usado no Japão para designar um fã por um determinado assunto. Já no ocidente acabou virando gíria para designar fãs de animes e mangás em geral (sendo classificado desta forma neste texto).

Kirsten é integrada a cultura local, sem ser vista de forma apelativa: vestida de Majokko acaba apresentada junto a outras pessoas também vestidas a caráter dentro de um contexto e um local onde faz sentido o uso de tal roupa. Avistada em qualquer outro lugar com a vestimenta ela poderia ser taxada de ‘louca’, ‘sem noção’ e outros termos pejorativos.

Cena de Akihabara Majokko Princess
O vídeo também abrange as diferentes formas ou faixas etárias que essa cultura de massa alcança, indo desde os jovens vestidos por gosto ou trabalho no bairro até a sensualidade (como quando ela mostra a calcinha bem rapidamente da mesma forma que a ilustração mostrada em seguida) e o erotismo (em vários quadros com garotas nuas ou seminuas)

Cena de Akihabara Majokko PrincessÉ interessante porque tudo no bairro parece estar inserido nesta cultura de massa: no curta, motos, caminhões, jogos, bonecos, festas aparecem fazendo referência aos animes, mangás e vídeo games. E o que mais destoa é que tudo é bastante japonês, não no sentido pejorativo, mas demonstra a extrema valorização que eles fazem da própria cultura, mesmo que seja de massa com a intenção de lucro. Diferente do que ocorre no Brasil, por exemplo.

MAS E A MÚSICA?

Turning Japonese foi lançada em 1980 pela banda The Vapors (que durou apenas dois anos, entre 1979 e 1981), tendo sido escrita por seu vocalista David Fenton. Durante anos muito se especulou sobre a letra desta música, com um grupo grande de pessoas afirmando que ela faria menção a masturbação, sendo o Virando Japonês do refrão a forma como o rosto da pessoa fica durante este ato. Alguns trechos também dão a entender esse sentido:

“I've got your picture, I've got your picture
I'd like a million of them all round my cell
I want the doctor to take a picture
So I can look at you from inside as well
You've got me turning up and turning down and turning in and turning 'round

I'm turning Japanese
I think I'm turning Japanese” (versão original)

“Eu tenho sua foto, Eu tenho sua foto
Eu gostaria de um milhão de você por toda minha célula
Eu quero um médico para tirar sua foto
E então eu poderia olhar para você de dentro também
Você me fazia ficar animado e desanimando e indo dormir e me virar

Estou me tornando japonês
Acho que estou virando japonês” (versão traduzida)

Capa do disco Turning Japonese, do The Vapors
Em um especial do canal estadunidense VH1, os membros do ex-grupo revelaram que a música faz referência a problemas de relacionamento de Fenton e é uma canção de amor sobre alguém que perdeu sua namorada e acaba indo lentamente a loucura. “Turning Japanese é todos os clichês sobre angústia e juventude e virando algo que você não esperava”.

Não há pronunciamento oficial de nenhuma das três partes envolvidas sobre o porquê exato do uso desta música no vídeo. O que dá a entender é que o papel de Kirsten é de uma garota que sofreu uma desilusão amorosa e usa o bairro de Akihabara como uma forma de se integrar a um grupo, no caso os otakus. Dessa forma, ela não pareceria normal para o restante das pessoas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cena de Akihabara Majokko PrincessAkihabara Majokko Princess cumpre o dever de casa para fazer parte da exposição Art Life, além de ser bem feito, trata da cultura de massa japonesa e insere a atriz Kirsten Dunst dentro do objetivo da obra.

Também podemos dizer que é um convite para os fãs de animação, quadrinhos e vídeo games japoneses para conhecer este bairro intrigante da cidade de Tóquio. Impossível para quem gosta não se sentir hipnotizado.

(Obs.: infelizmente tem sido cada vez mais difícil encontrar este curta-metragem no ar. Caso precise, para fins acadêmicos, posso fornecer uma cópia gratuitamente)

AKIHABARA MAJOKKO PRINCESS
Direção: McG
Produção: Takashi Murakami
Atriz: Kirsten Dunst
Vídeo originalmente produzido para compor a exposição Pop Life: Art in a Material World

2 comentários:

  1. Muito boa essa parte: "(...)poderíamos dizer que Akihabara seria o equivalente no Brasil a união dos bairros Santa Ifigênia e Liberdade na cidade de São Paulo."


    Embora o vídeo dê ênfase na parte mais "infantil" e lúdica, se é que podemos dizer isso, acho muito interessante como o mangá é enraízado na cultura japonesa, pois lá temos uma indústria voltada não só para os jovens como também para as pessoas mais velhas.

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    1. Você tinha que ter copiado o começo do parágrafo também: "(...)Em uma comparação grosseira – devido às proporções"...rs. Mas pior que pelo que eu li, e olha que li bastante para fazer esse texto, é bem por aí mesmo.

      Concordo contigo, o vídeo dá mesmo mais ênfase ao mais infantil na cultura otaku, mas abrange toda a população de uma maneira ou outra.

      É dessa maneira que eles tentar ampliar a influência cultural em outros países, como o Brasil. Parte da população juvenil daqui já não vê mais os Estados Unidos como influência, porque a cultura de lá está perdendo força, enquanto o Japão tem nos suprido bastante de novidades para essa faixa etária. E essa turma cresce com outra cabeça.

      Abraços e obrigado pelo comentário, parceiro. Espero que apareça em outras ocasiões.

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