Disney em curiosidades - Parte 4 (final)


Estátua de Walt Disney e Mickey na entrada da Disneylândia
A maior parte das biografias segue um básico roteiro para traçar toda (ou não) a vida de alguma pessoa. Esta Observação não! A ideia é seguir um modelo diferenciado, ainda mais por tratar de uma personalidade que não gostava de seguir regras e padrões: WALT DISNEY.

O modelo utilizado aqui seguirá a linha de curiosidades a respeito de sua vida, tendo como base três livros: Walt Disney – O triunfo da imaginação americana, de Neal Gabler, Walt Disney – Prazer em conhecê-lo e A Magia do Império Disney, ambos de Ginha Nader.

Cada capítulo, intitulado com uma curiosidade sobre sua vida e obra, é composto do contexto histórico no qual ela está inserida, sua relação com Walt e uma explicação da curiosidade, seja ela verdadeira ou não. O objetivo é tentar abranger as diferentes áreas de atuação do produtor e identificar seu legado.

Nesta QUARTA E ÚLTIMA parte teremos:
- Curiosidade 8: Walt Disney recriou Abraham Lincoln
- Curiosidade 9: Walt Disney teria sido criogenizado
- Considerações finais

CURIOSIDADE 8: WALT DISNEY RECRIOU ABRAHAM LINCOLN

Cartaz da Feira Mundial de Nova Iorque de 1939Contexto histórico: A Feira Mundial de Nova Iorque
O ano era 1939. O local Flushing Meadows-Corona Park, situado ao norte do bairro Queens, segundo maior parque público de Nova Iorque.

Neste ano e neste local foi realizada a maior feira mundial de todos os tempos: New York World’s Fair (Feira Mundial de Nova Iorque). Na primeira e segunda temporada – realizada no ano seguinte – foram contabilizados aproximadamente 44 milhões de visitantes.

A NYWF foi a primeira exposição a ser baseada no futuro e seu cartaz estampava: The World of Tomorrow (O Mundo do Amanhã). O projeto foi idealizado por policiais nova-iorquinos dispostos a resgatar a metrópole e o país recém-saído de sua maior crise, a quebra da bolsa de 1929. Sendo a comissão constituída por diversos líderes empresariais na época, incluindo Henry Fiorello La Guardia, prefeito de Nova Iorque de 1939 a 1945.

O objetivo era revelar como o progresso tecnológico e urbanístico então vigente seria visto pelas futuras gerações. E expor o olhar do amanhã sobre os novos conceitos presentes em estado latente neste avanço das forças mecânicas, das mais recentes inovações materiais, destinadas a aperfeiçoar o mundo futurista.

O Brasil também teve uma participação significativa neste evento, representado em seu pavilhão projetado pelos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

Os arquitetos participantes desta Feira foram estimulados por órgãos governamentais ou patrocinadores privados, que os motivavam a atuar com dinamismo, inovação e criatividade.

Foto do alto da Feira Mundial de Nova Iorque em 1964 / 1965
Imagem área da Feira Mundial de Nova Iorque em 1964/65
Para o biênio 1964/1965, um grupo de empresários de Nova Iorque – lembrando suas experiências de infância – decidiu realizar uma segunda versão da Feira Mundial. Robert Moses, que já havia sido o encarregado da primeira versão, foi novamente incumbido da tarefa de chefiar o evento e partiu atrás de Walt Disney na Disneylândia atrás de ideias.

Disney:
Não era a primeira vez que Disney era convidado para uma Feira Mundial. Ele já havia produzido um desenho animado de quatro minutos de Mickey Mouse para os pavilhões da Nabisco nas Feiras de São Francisco e Nova Iorque em 1939; e o coordenador do pavilhão dos Estados Unidos na Feira Mundial de 1959 em Bruxelas pedira a Walt para desenhar a atração lá, que acabou sendo posteriormente exibida na Feira Mundial de Moscou de 1960.

Disney, entretanto, declinou sobre a ideia inicial de Moses de criar uma espécie de Disneylândia no leste dos Estados Unidos, uma vez que acreditava que o Estado de Nova Iorque não destinaria recursos para um parque permanente, não vendo outro meio de lucrar com aquilo.

Mas, sem que nem mesmo Moses soubesse, Walt já negociava com várias companhias sobre a possibilidade de planejar suas exposições. No total, a WED, empresa criada por Walt para criação de projetos para a Disneylândia, fechou sua participação com três grandes empresas norte-americanas: para a General Eletric foi desenvolvido o Carrossel do Progresso; para a Ford, O Caminho Aéreo Mágico; e para a Pepsi-Cola, O Pequeno Mundo, cuja canção, It’s a Small World, tornou-se o tema mais popular da Disneylândia.
Foto de Walt Disney segurando sua escultura feita por Blaine Gibson
Rosto de Abraham Lincoln esculpido por Blaine Gibson

Sobre a curiosidade:
Apesar dos outros projetos, Walt tinha interesse pessoal em outra exposição chamada Salão dos Presidentes e, mesmo ciente do custo proibitivo para a época, decidiu criar um robô de Abraham Lincoln em tamanho natural.

Disney sempre demonstrou admirá-lo, e embora lesse muito pouco além de jornais e roteiros, havia devorado informações sobre o 16º presidente. Segundo Neal Gabler, ele certamente estava consciente da arrogância de tentar trazer Lincoln à vida. Quando mostrou os protótipos audioanimatrônicos para um pastor, este lhe disse que “estava certo você tentar trazer contos de fadas para a vida e criar um rato à semelhança de um homem, mas criar um homem – isso é usurpar os poderes de uma autoridade maior”.
Abraham Lincoln animatrônico, feito pela empresa de Walt Disney para a Feira Mundial
A versão animatrônica do ex-presidente

Mas a participação do robô na Feira Mundial ainda não havia sido fechada. Em abril de 1961, Robert Moses voltou ao estúdio para ver como estavam os projetos da GE e da Ford, quando Walt lhe perguntou se ele gostaria de conhecer Abraham Lincoln e o levou à sala onde fez a apresentação. Lincoln levantou-se e lhe estendeu a mão, e Moses ficou instantaneamente cativado. Insistiu em ter Lincoln no evento.

O fascínio foi tanto que Moses rapidamente conseguiu o patrocínio do Estado de Illinois, em cujo pavilhão foi apresentado Os Grandes Momentos de Lincoln.

Novamente uma obra de Disney, mostrando sua capacidade de inovação para o entretenimento, alcançaria o sucesso.

CURIOSIDADE 9: WALT DISNEY TERIA SIDO CRIOGENIZADO

Contexto histórico: Estudos sobre a criogenia
Capa do livro The prospect of immortality, de Robert EttingerAcredita-se ideia original de que uma pessoa possa ser congelada e depois trazida de volta à vida quando a tecnologia tiver evoluído tenha se originado do livro The Prospect of Immortality, do professor de física Robert Ettinger, publicado em 1962.

Ettinger defendia que cientistas um dia descobririam o segredo da eterna juventude, e durante anos juntou estudos que comprovassem o valor e a seguridade da criogenia. Seu livro, quando de seu lançamento, recebeu o aval de um dos principais autores de ficção-científica Issac Asimov.

A primeira pessoa a ser congelada criogenicamente foi um psicólogo de 73 anos, Dr. James Bedford, suspenso em 1967. Há quem afirme que seu corpo ainda encontra-se em perfeitas condições na Alcor Life Extension Foundation.

Foto do dr. James Bedford, primeiro humano a ser criogenizado
Dr. James Bedford, primeiro ser
humano criogenizado
No final dos anos 70, existiam seis empresas de preservação criogênica nos Estados Unidos. Porém, preservar cada corpo era tão caro que muitas empresas fecharam no fim dessa década.

Atualmente, poucas empresas oferecem serviços completos de suspensão criogênica, incluindo a Alcor Life Extension Foundation no Arizona e o Cryonics Institute em Michigan. No início de 2004, a Alcor tinha mais de 650 membros e 59 pacientes em preservação criogênica.

Espera-se que algum dia a nanotecnologia repare não somente os danos celulares causados pelo processo de congelamento, mas também os danos causados pelo envelhecimento e por doenças. Alguns criobiólogos preveem que a primeira ressuscitação criogênica poderá ocorrer por volta de 2040.

Disney:
Walt nunca teve qualquer ligação com a criogenia. Apesar de toda sua pesquisa ao longo dos anos visando primeiro a produção dos filmes de animação e posteriormente a criação da Disneylândia, não há qualquer relação entre ele e estes estudos.

Walt Disney, no entanto, teve uma morte inesperada. Enquanto realizava diagnóstico prévio para operar de uma dor crônica no pescoço, iniciada após um incidente no jogo de polo muitos anos antes, descobriu ter câncer no pulmão.

A doença não surpreendeu tanto a família e pessoas próximas. Em sua biografia sobre Disney, Neal Gabler afirma que Walt “havia fumado durante anos, desde seus dias na Cruz Vermelha, um cigarro atrás após o outro, um fumante nervoso, os dedos manchados de nicotina, a voz rouca e grossa, toda conversa era frequentemente pontuada por seu pigarro”. Vale lembrar que estes cigarros não possuíam filtro como os atuais.

Foto do jazigo da família Disney
Jazigo da família Disney
Faleceu em 15 de novembro de 1966, pouco mais de um mês depois da descoberta do câncer, sendo cremado em uma cerimônia pequena, apenas com a presença da família.

Quase um ano depois da cremação, as cinzas de Walt Disney ainda permaneciam insepultas com sua família. Somente depois que o marido de sua filha mais nova ser subitamente derrubado pelo câncer menos de um ano após a morte de Walt, Sharon, decidindo que seu pai e seu marido deviam ser enterrados juntos, tomou medidas para sepultar as cinzas. O local escolhido foi o próprio terreno da família em Forest Lawn.

Sobre a curiosidade:
O mito sobre o congelamento criogenizado de Walt gerou muita polêmica nos anos 1960. Há quem acredite que o boato começou pelo silêncio da família, e principalmente do produtor, que esperou até o último momento para contar para as pessoas mais próximas a ele sobre a doença.

O mito também foi ampliado por causa das coincidências entre a data da morte de Disney e o primeiro caso de suspensão, ambos em 1967.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foto de Walt DisneyÉ indiscutível a importância de Walt Disney para o entretenimento como um todo. Sua obra, em especial na parte da animação e da diversão, até hoje é glorificada e encanta gerações. Um exemplo disso foi o alvoroço provocado pelo lançamento da versão remasterizada de Branca de Neve e os Sete Anões, considerado por estudiosos da mídia especializada como lançamento do ano em DVD e Blu-Ray em 2009.

Mas seu legado não se resume a Branca de Neve ou Mickey Mouse, como ele dizia no fim de sua vida.

No final de sua biografia, Neal Gabler afirma que “embora tenha partido há muito, Walt Disney continua acontecendo. Suspeita-se que seus filmes e parques temáticos vão fornecer material para reflexão interminável, análise e confronto com questões como o significado da América, capitalismo, a cultura de massa, fantasia, história e até valores em relação ao sexo e aos animais”.

Walt foi pioneiro em diversos estudos. Branca de Neve e os Sete Anões pode até ser questionado como não ter sido primeiro longa-metragem de animação de fato, mas foi o primeiro a ter sucesso retumbante. A Sinfonia Ingênua Os Três Porquinhos foi o primeiro desenho animado colorido da história. E Steamboat Willie, terceiro curta-metragem de Mickey Mouse, o primeiro a apresentar a música como parte intrínseca da história naquela arte.

Foto de Walt Disney e sua esposa Lilian Bounds DisneyDisney costumava dizer – e o mesmo vale para a Pixar atualmente – que não produzia uma animação apenas para aquela época e sim para anos vindouros. De modo que pudesse encantar gerações. Vale notar quantos filmes ao vivo produzidos pelo estúdio – e foram em número bem maior que as animações – ainda são lembrados. Ao passo que Branca de Neve, Cinderela, Dumbo e Pinóquio se mantêm vivos e rentáveis até hoje.

Outros feitos notáveis podem ser vistos na Disneylândia, primeiro parque temático da história e que se manteve assim por vários anos.

Walt, ao longo dos anos, se propôs desafios cada vez maiores e conquistou feitos até então inimagináveis. Fica também a curiosidade de como teria sido a sua versão para o projeto EPCOT, de criar uma sociedade isolada e vivendo na maior perfeição possível.

A presente obra, conforme dito na introdução, procurou ater-se a pessoa e a obra de Walt Disney enquanto vivo. Mas há outras interessantes histórias posteriores.

Foto de Walt DisneyInfelizmente, o estúdio Disney passou por um período de ostracismo após a morte de seu criador. As décadas de 1970 e 1980 foram consideradas o pior período criativo do estúdio. A recuperação começou a ser esboçada com em 1984 quando o executivo Michael Eisner, recém-saído da presidência da Paramount, assumiu o comando do grupo quase a beira da falência e o tornou em um dos mais lucrativos estúdios e grupos de Hollywood.

Só para listar alguns feitos de Eisner estão: renovação e ampliação dos parques com novos brinquedos e abertura de novos parques em outros continentes, lançamento de uma nova safra de filmes (que inclui A Pequena Sereia, Aladin e Bela e a Fera), relançamento de obras clássicas, primeiro em VHS e depois em DVD, aquisição da emissora norte-americana ABC, lançamento do Disney Channel, entre outros.

Projetos inovadores da Disney surgem ainda hoje como os filmes do estúdio Pixar e franquias baseadas em brinquedos da Disneylândia como Piratas do Caribe.

Mas, enfim, essas são outras curiosidades. Fica para uma outra oportunidade.

BIBLIOGRAFIA

WALT DISNEY - O TRIUNFO DA IMAGINAÇÃO AMERICANA
Título original: Walt Disney: The Triumph of the American Imagination
Autora: Neal Gabler
Editora: Novo Século
Páginas: 944
Ano de lançamento: 2009

WALT DISNEY - PRAZER EM CONHECÊ-LO
Autora: Ginha Nader
Editora: Maltese
Páginas: 216
Ano de lançamento: 1995

A MAGIA DO IMPÉRIO DISNEY
Autora: Ginha Nader
Editora: Senac
Páginas: 526
Ano de lançamento: 2007

Cena do fim do filme Alice no País das Maravilhas, da Disney

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