Brilho eterno de uma mente sem lembranças | Um sussurro de criatividade nos cinemas


Capa do filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Qual o seu filme favorito?

Muitas pessoas costumam variar o gosto conforme os anos. Filmes viram favoritos logo após serem assistidos e os que gostavam antes vão sendo esquecidos e somente lembrados quando vistos ‘sem querer’.

Outras esquecem gostos pessoais e seguem listas elaboradas por publicações e/ou instituições de grande relevância para a área, tais como American Film Institute, British Film Institute (através da revista Sight and Sound), Empire, Imdb, entre outros.

Mas ainda há aqueles – grupo no qual me incluo – que escolhe um e, independente das opiniões dos demais, escolhe um filme e o faz seu ‘melhor de todos os tempos’.

Respondendo a pergunta acima, o meu é BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS e esta Observação é sobre o porquê desta escolha.

UMA HISTÓRIA MALUCA PARA DOIDOS APAIXONADOS

Cena do filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Quem nunca quis esquecer completamente uma dor de cotovelo? Ao sermos abandonados por alguém que gostamos é inevitável – ao menos no primeiro e mais doloroso momento – pensarmos em algo assim.

A questão que o filme carrega é: e se alguém inventasse uma máquina capaz de apagar de nossas mentes momentos que não queremos mais? Pode ser a salvação para quem sofre com coisas assim, mas talvez pior para quem descobre que foi apagado.

Joel Barish amou Clementine Kruczynski no primeiro momento em que a viu. Mas talvez seja melhor dizer ‘nos primeiros momentos em que a viu’, afinal em Brilho Eterno nem sempre é possível identificar o que aconteceu primeiro.

Charlie Kaufman, roteirista do filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Charlie Kaufman
Explico:

A genialidade na história de Charlie Kaufman e Michel Gondry não está apenas em sua sinopse, mas também na construção do roteiro. Aparentemente, o que começamos a ver no início do filme é uma coisa (os protagonistas se encontrando e se conhecendo melhor), mas de repente temos um corte para uma cena com Joel chorando no carro, aparentemente no futuro.
Michel Gondry, diretor do filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Michel Gondry

Após descobrir que sua ex-namorada, Clementine, o apagou da memória, Joel decide fazer o mesmo. A seguir estamos na cabeça dele e o acompanhamos em sua tentativa – ainda que vã – de evitar que isso aconteça. Mas tudo isso acontece em um vai e volta o tempo todo e mesmo os criadores do filme – nos comentários do DVD – afirmam não saber sempre o que é real e o que é a cabeça de Joel.

PERDIDO NO TEMPO, MAS PRESO AO ESPAÇO

Existe uma inconstância nas informações passadas na obra. Abaixo algumas delas.

- A máquina de apagar memórias:
Aparentemente, o aparelho usado pela clínica do Dr. Mierzwiak não parece ser o único. É difícil imaginar ser aquele o único lugar de algo que acabaria sendo bastante popular e, apesar de ter fila para atendimento, não está ‘nadando’ em dinheiro, visto o tamanho da clínica e o número de funcionários.

- Em que época se passa esta história:
Cena do filme Brilho eterno de uma mente sem lembrançasEmbora Joel afirme que está em 2004, algumas coisas não batem, tais como a presença de aparelhos como máquina de escrever e não computador, fitas K7 e não CDs, DVDs ou MP3, cartas no lugar de e-mails ou redes sociais. O que provavelmente remeteria o filme aos anos 1980 ou 1990. Até mesmo o sistema usado pelo Dr. Mierzwiak aparente ser bastante arcaico comparado à tecnologia atual. Esta questão também está presente em outras obras dos idealizadores do filme, como Quero ser John Malkovich (que tem roteiro de Charlie Kaufman) e Rebobine, Por Favor (dirigido por Michel Gondry).

ELA ERA LEGAL. LEGAL É BOM

Kate Winslett e Jim Carrey, em cena no filme Brilho eterno de uma mente sem lembrançasAinda que não seja de fácil compreensão, Brilho Eterno é apaixonante. A história de amor entre Joel e Clementine poderia muito bem ser a minha ou a sua, afinal carinhos, brigas, encontros, desencontros, brincadeiras, reconciliações fazem parte de todos os relacionamentos.

No filme, temos a visão de Joel tanto do namoro quanto da sessão de apagar a memória. Acredito que assim como ele, Clementine não pensou diferente, o final deixa um pouco mais claro isso. Só o fato de terem se encontrado e se apaixonado novamente já mostra que eles poderiam apagar ambas as memórias várias e várias vezes que continuariam a se apaixonar quando se deparassem.

“Feliz é o destino da inocente vestal! Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida. Brilho eterno de uma mente sem lembranças! Toda prece é ouvida, toda graça se alcança”, diz a frase de Alexander Pope, citada por um dos personagens do filme e que encaixa perfeitamente na obra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Minha parte preferida (e acredito que a de muitos): tudo está se apagando, resta apenas a lembrança do primeiro real encontro do casal. Na casa desmoronando eles têm a última conversa – coisa que só nossa mente permite – sobre aquele primeiro encontro (e aquele que agora os dois esquecerão).

“- E se você ficasse dessa vez? – diz Clementine tentando evitar que a cena real, onde ele foi embora e apenas se viram posteriormente no local de trabalho dela.
- Eu fui embora pela porta. Não sobrou nenhuma lembrança.
Cena do filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças - Meet me in Mountauk (Encontre-me em Mountauk)
- Volte e faça uma despedida, pelo menos. Vamos fingir que tivemos uma.
Ela desce as escadas, dobra os joelhos para ficar mais próxima de Joel sentado ao chão e diz: Tchau, Joel.
- Eu te amo – ele responde.
- Encontre-me em Montauk – Clementine sussurra em seu ouvido antes de tudo acabar de fato”.

Tudo acontece na cabeça de Joel, mas Clementine está lá em Montauk no começo do filme, assim como ele. E lá se reencontrarão. Destino? Acaso? Não, amor!

Confira o trailer do filme:

BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS
Cena final do filme Brilho eterno de uma mente sem lembrançasTítulo original: Eternal Sunshine of the Spotless Mind
País de origem: Estados Unidos
Ano de lançamento: 2004
Elenco: Jim Carrey (Joel Barish), Kate Winslet (Clementine Kruczynski), Kirsten Dunst (Mary), Elijah Wood (Patrick), Mark Ruffalo (Stan) e Tom Wilkinson (Dr. Mierzwiak)
Roteiro: Charlie Kaufman
Direção: Michel Gondry

Textos da série especial Memórias:
Demolidor - Diabo da Guarda - Toy Story 3 - O Corvo - Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

10 comentários:

  1. Bem, esse filme não é meu favorito. Na verdade não sei se tenho um filme favorito. Se formos contar pela quantidade de vezes que assisti à uma mesma película, o vencedor é "Orgulho e preconceito". Confesso que "amo ardentemente" esse filme, mas não vamos comentá-lo agora, pois o assunto é outro.
    Quanto ao "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" acho fascinante a possibilidade de apagar algumas memórias. Já tenho uma seleção de cenas que eu apagaria, mas a minha lista maior é de cenas que eu editaria. Acrescentaria algumas frases, reelaboraria outras, cortaria algumas, incluiria algumas cenas, criaria alguns personagens para uma participação especial, enfim, faria um novo roteiro para algumas cenas da minha vida. Em contrapartida, algumas cenas não teriam um retoque sequer, foram perfeitas do modo como aconteceram, bem melhor do que em muitos filmes. A vida pode nos surpreender...
    Espero que em 2013 minha vida seja uma espécie de comédia romântica... não quero dramas nem suspenses. Espero que minha lista de coisas para apagar não aumente. Agora, ter vontade de editar é inevitável... nos nossos pensamentos quando os imprevistos acontecem, logo são solucionados como mágica... na vida real não.
    Quero assistir à esse filme novamente, pois acredito que ele mostra como certos momentos são inesquecíveis e devem ser assim, afinal já fazem parte do que somos, mesmo que não queiramos.

    abraços
    AC

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    1. Eu já te disse que Orgulho e Preconceito é a próxima obra a ser analisada aqui e que entra no ar dia 11 de janeiro de 2013? rs. Sim, também é um dos meus filmes favoritos, assim como o livro é um dos meus favoritos.

      Sei que é difícil dizer qual o nome de um filme favorito. Mas Brilho Eterno tem esse título para mim por vários motivos, alguns pessoais demais (e por isso não foram mencionados acima), outros técnicos). Mas acima de tudo gosto da ideia de querermos realmente mudar várias coisas na nossa história, mas no íntimo preferir que deixemos tudo como está.

      E é o que você falou, são desses momentos que nossa vida é feita. Para mim, foi bom rir, chorar, sonhar e fazer tudo que fiz até hoje (mas também gostaria muito de mudar várias e várias coisas....rs).

      Beijos,
      TS

      obs.: quando vai escrever um texto para o blog? rs

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  2. Bem, só para constar também tenho motivos pessoais envolvendo o título "Orgulho e preconceito" que não foram nem serão mencionados...risos.
    Quanto ao texto para o blog já escolhi a obra, mas no momento não consigo me concentrar para escrever. Faz tempo que só escrevo textos para a pós e acho que perdi o jeito.
    Estou me reencontrando nessas férias, lendo títulos por prazer e não obrigação, então assim que a inspiração surgir eu escrevo, mas já adianto que não sei escrever como você, com tantos detalhes como os citados nessa análise.
    Minha visão é totalmente subjetiva...
    De qualquer forma, quando o texto estiver pronto, te envio e você faz as correções necessárias.

    abraços
    AC

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    Respostas
    1. Fiquei agora tentando imaginar quais seriam os motivos, mas vou ficar somente nisso....rs. Certas coisas valem mais a pena guardar apenas para nós.

      Olha só, sabia que ia acabar te vencendo pelo cansaço...rsrs. Vou ficar aguardando ansiosamente o seu texto.

      E não ligue quanto a forma, é só seguir mais ou menos a formatação que uso aqui.

      Beijos,
      TS

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    2. Tiago, Tiago

      Eu também fiquei curiosa sobre os "seus motivos", mas não vou indagar nada a respeito, afinal como você mesmo disse "certas coisas valem mais a pena guardar apenas para nós".

      Quanto ao texto, adianto que ele pode demorar muito a ficar pronto. Por favor não me pressione, estou com bloqueio mental e uma preguiça imensa.

      Com relação a formatação, seguir seu modelo é exatamente o que não sei fazer. Você é técnico, cheio de detalhes (ótimos), mas eu sou totalmente subjetiva e embora seja professora, detesto ler meu texto mais do que 3 vezes. Sempre quero arrumar, arrumar e acabo estragando.

      Vou ver o que posso fazer. Juro que vou tentar, mas por favor não espere nada de muito especial, porque você pode se decepcionar e eu também.

      Um grande abraço
      AC

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    3. Quando digo sobre a formatação, moça, é o seguinte:

      - Tem que ter um abre, indicando o texto que virá a seguir (que é o que ficará na página principal com o link para quem quiser acessar o texto na íntegra)
      - Título bonitinho
      - Tamanho: 2 páginas de Word (arial, 10, espaço entre as linhas 1,5)
      - Terminar com considerações finais

      E só! Quanto ao desenrolar do texto deixo nas suas mãos mesmo, da mesma maneira que faço com meu outro colaborador (o também Tiago).

      Ah, e você acha que eu leio mais do que duas vezes o texto? Antes eu até fazia isso, hoje deixo para lá e releio, às vezes, meses depois consertando pequenos erros, mas nada que altere o sentido do texto.

      Vou aguardar!
      Beijos,
      TS

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  3. Ti,

    Demorei para ler o texto sobre "Brilho Eterno", mas aqui estou! Com certeza é um dos meus filmes favoritos, não sei se o mais mais dos favoritos, ainda assim, favorito. Tanto que só de ler seu texto e relembrar as cenas já fiquei emocionada.

    Pq são lembranças pessoais demais para serem compreendidas por pessoas alheias (por mais que se tente), são sonhos realizados e desfeitos enquanto a vida corre, a vontade de apagar/editar um ponto ou outro mesmo que seja só na própria cabeça, e é, sobretudo, a linguagem cinematográfica, apesar de uma e outra imperfeição, como você bem reportou.

    Muito amor por essa película <3

    Beijos,
    Mari

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    1. Olá, moça. Fico feliz por você ter lido, não importa quando...rs. Eu resolvi assumir que Brilho Eterno é meu filme favorito, fica mais fácil também quando alguém me pergunta se tenho algum...rs.

      Curioso que assisto esse filme pelo menos umas duas vezes por ano desde que ele saiu (quando não mais...) e nunca me canso de Joel e Clementine...o cara do 'nice' e a 'tangerine'...

      Obrigado por comentar!

      Beijos,
      TS

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  4. Olá parabéns pelas sua observações sobre o filme gostei muito!É como você disse"Ainda que não seja de fácil compreensão, Brilho Eterno é apaixonante."concordo com você,eu não tinha reparado sobre os objetos que os personagens do filme usam e sendo que o filme se passava em 2004 eu achava que era pelo fato deles serem apegados aquilo e gostavam de usar tipo a maquina de escrever e fitas cassete mais não tinha reparado .. parabéns!Meu filme favorito é Forrest Gump mais Brilho eterno se fosse fazer uma lista seria meu terceiro favorito em segunda colocaria Gilbert Grape esse negócio de filme favorito é dificil a gente pega um carinho pelo filme que parece até da familia... Parabéns!

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    Respostas
    1. Primeiro, muito obrigado por comentar, Thayanne. Gosto bastante de interagir com nossos leitores. Na verdade, Brilho Eterno é um filme tão singelo que a primeira vista nem reparamos nestes detalhes que cito (mas eu já vi um milhão de vezes, então...rs). Gosto bastante de Forrest Gump, está na nossa lista há tempos para ganhar uma análise no blog. Já Gilbert Grape, vi há vários anos e mal me recordo da história, lembro apenas dos atores. Mas quem sabe revendo não me empolgo a escrever...rs.
      Abraços.

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