Adormecida | Um longo, longo sono...


Capa do livro Adormecida, de Anna Sheehan (LeYa)
Selo do Blog Parceiro LeYa / Lua de PapelRose Fitzroy é herdeira de um conglomerado financeiro que sustenta boa parte do mundo. Após sessenta e dois anos em um sono induzido, ela é despertada e não consegue entender direito o que lhe aconteceu e sente a perda do que tinha de mais próximo: seus pais e seu amado Xavier.

Resta agora a jovem tentar levar sua vida e contornar os desafios da Terra que já não considera mais sua. E pior, a seu ver, todo mundo é um inimigo em potencial.

Acompanhe-me nesta Observação, conheça os caminhos trilhados por Rose e veja os altos e os baixos do livro ADORMECIDA, de Anna Sheehan.

...QUALQUER UM PODE SER INIMIGO

Cena de A Bela Adormecida, da Disney
A obra procura trazer para a
modernidade o clássico conto de
A Bela Adormecida, mas alterando
alguns pontos centrais
Durante a leitura, para tentar tornar muitos livros críveis, é necessário fazer uma imersão na história e buscar ser parte de tais acontecimentos. Com Adormecida não é diferente. O objetivo da autora aqui é claramente montar uma história que traga para modernidade um conto de fadas tradicional (A Bela Adormecida), ou seja, espere ver a mocinha, o príncipe e o vilão.

Por ser algo moderno, estes personagens não podem ser claramente percebíveis como tal, afinal o leitor precisa ser surpreendido e instigado.

Por que digo isso? Rose Fitzroy não é uma personagem fácil de você se identificar e também não é alguém com quem queira necessariamente se identificar. É fraca, não consegue ligar o óbvio e esconde seu verdadeiro eu por baixo de uma máscara. No tradicional, não poderia ser considerada a heroína da história, mas nos tempos modernos sim.

Página do livro Adormecida, de Anna Sheehan (LeYa)
Detalhe da epígrafe e da dedicatória no livro
Brendan também não é o que melhor já se fez de ‘príncipes’. Atlético, musculoso e inteligente, mas com um grande problema a lidar na história: não ama a mocinha. Já Otto, um curioso ser humano (ou não, já que surgiu de uma inseminação de micróbios em mulheres) dotado do poder de ler mentes (o que compensa sua impossibilidade de falar) vai ao longo do livro deixando pistas do que realmente sente por Rose. Mas eles não terminarão juntos.

Por fim, a Reggie Guillory, um ser descrito apenas como algo parecido como uma “valiosa estátua dourada”, cabe o papel de vilão. Ambicioso, perverso, mas dedicado a empresa, trata a menina com indiferença e a deixa a cargo de tutores displicentes e de uma escola onde ela não gostaria de estar. Não é difícil deduzir – assim como aconteceu com Snape na saga Harry Potter – que ele não será o grande vilão do livro de fato. Mas já chegaremos lá.

Mesmo com discordâncias em alguns pontos, esta é a tríade (ou quarteto) que mantem a história funcionando. Uma estrutura básica, simples e que quase não surpreende o leitor em nenhum momento por que, apesar de moderno, ainda é um conto de fadas. Ou tenta ser.

ELA DORMIU POR MAIS DE 60 ANOS

Não quero atrapalhar sua leitura, mas a revelação a seguir entrega pontos relevantes do livro e que eu acho importante abordar aqui. Se ainda não terminou de ler, será mais precioso que prossiga com este texto em outro momento.

Ciente disso, prossigamos.

O principal trunfo de Adormecida, na verdade, não está na mocinha, no (s) príncipe (s) ou no vilão, está na sua revelação principal (senão, a única!). Uma crítica velada ao autoritarismo, mas não àquelas pessoas que estamos acostumados a criticar por tal questão (polícia, governo), e sim alguém mais próximo: os pais.

Xavier (lembra dele? O amado dela mencionado na chamada desse texto...) estar vivo, tomar um fora de Brendan ou mesmo o fato da capacidade do plastine de deduzir onde encontrar a garota ser totalmente fora do comum (além da sua capacidade de sempre falhar em sua missão). Nada surpreende! Tudo é muito óbvio, quando não banal e desnecessário para um leitor atento. Mas o motivo da vida da garota ser o que é por culpa de seus próprios pais é surpreende e o grande trunfo da autora.
Página do livro Adormecida, de Anna Sheehan (LeYa)
Detalhe da diagramação das páginas

Só para deixar mais claro. Rose dormiu tantos anos – e, na verdade, ela tem bem mais do que os 62 anos dormidos + os 16 vividos – porque assim ficaria mais fácil a vida para os pais dela. Tomo liberdade para copiar o trecho que explica tudo:

“Imagine – ele disse – que os pais estejam se sentindo sobrecarregados de trabalho. O bebê chorou o dia todo. Tudo o que eles precisam é de meia hora de sono. Todos os pais já se sentiram assim. Eles colocam a criança em estase até que se sintam capazes de lidar com a situação. Fizeram isso em vez de arrumar uma babá para a criança, em vez de organizar melhor as suas agendas, em vez de admitir que precisavam de ajuda. Fizeram pela própria comodidade. Uma única vez pode não parecer abuso, eu lhe garanto. Simplesmente não parece tão ruim assim. Mas, imagine agora que a criança tem dois ou três anos. Os pais querem dar uma festa de fim de ano, mas a criança seria inoportuna caso ficassem por ali. Colocam o filho em estase até depois da festa. Não vai demorar muito. Pela própria comodidade deles. Agora, eles querem sair de férias” (pág. 199).

A estase em questão é um sistema criado na história que permite às pessoas ‘congelarem’ por dias, meses, anos, séculos e simplesmente acordar como se fosse só uma noite de sono. O corpo não envelhece, o tempo não passa para que está em estase. Tendo isso em mente, é possível imaginar o abuso que não só os pais de Rose cometeriam, como também muitos outros, caso isso existisse de fato.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Lembra quando falei da necessária imersão na história para torná-la real? Confesso que, apesar de em um primeiro momento a história me parecer interessante, não consegui adentrá-la totalmente. Sabe quando está em uma conversa com um amigo pré-adolescente ou adolescente, independente do sexo, e este lhe confidencia gostar de alguém e não ser correspondido ou não ser aceito na escola, e você simplesmente acha a conversa chata, boba, banal? A meu ver, Adormecida foi inteiro assim. Chato, bobo e banal!

Imagem de capa do livro Adormecida, de Anna Sheehan
Destaque para a bela imagem de capa
escolhida pela editora, que aliás vende
muito bem o livro. Pena que, para mim,
a autora não soube fazer o mesmo.
A protagonista não é crível o suficiente. Ela é tão submissa durante todo o livro que você não consegue acreditar que tenha reagido em algum momento a isso. Ainda mais nos dois cruciais para a história: o primeiro quando desobedece aos pais e viaja para receber seu prêmio de arte e o segundo após vencer milagrosamente sozinha o cabalístico ser deixado por seu pai para sempre trazê-la de volta caso repetisse o mesmo do acontecimento de antes (o plastine).

Isso sem levar em conta que do nada salta de submissa a chefe da empresa após derrotar o plastine, demitindo seus tutores, iniciando e guiando uma séria conversa com Xavier já envelhecido. Em algo difícil de acreditar que faria sendo como é. Não, não consigo me convencer.

É um conto de fadas moderno, sei disso, e com toda a certeza posso afirmar que não sou o público-alvo de Anna Sheehan. Não me identifiquei com nenhum personagem e deixou-me com a impressão de tudo ser muito artificial (algumas falas são sem qualquer nexo). Não recomendo, mas fico com uma dúvida para saber o que acharia deste livro o público mais novo e de preferência do sexo feminino.

ADORMECIDA
Título original: A long, long sleep
Autora: Anna Sheehan
Editora: Lua de Papel
Páginas: 272
Ano de lançamento: 2012

2 comentários:

  1. Pensei na Bela Adormecida!!
    Tenho preconceitos com ficção científica, mas sua resenha me interessou bastante!!!
    Acho que vou dar uma olhada online primeiro, a ver se vale a pena comprar.
    Olha aqui: http://portugues.free-ebooks.net/ebook/Adormecida-2

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