Solanin | A obra e sua caricatura

Aoi Miyazaki, que vive Meiko Inoue do mangá Solanin no filme homônimo
Um quadrinho singelo, com momentos tristes, outros felizes e outros dignos de se pensar ou quem sabe chorar. SOLANIN, de Inio Asano, é uma história rápida e curta, focando na mudança da juventude para a fase adulta da vida – tema extremamente batido, mas que uma hora ou outra traz uma grata surpresa, como é o caso.

Inoue Meiko e Taneda Shigeo são namorados e moram juntos em Tóquio. No começo da história Meiko, com dúvidas em relação à vida, decide pedir demissão para questionar seus amigos e descobrir se é realmente feliz. Já Taneda trabalha em um emprego sem carteira assinada e mantém uma banda que toca apenas duas vezes por mês em um estúdio alugado. No fim, eles não estarão mais juntos e nada mais será como antes.

A história em quadrinhos, lançada entre 2005 e 2006 no Japão (no Brasil, a obra chegou no final de 2011), gerou um filme quatro anos depois de finalizada. Esta Observação tratará das duas obras, comparando-as e analisando como a transposição dos quadrinhos foi feita para o cinema.

DE LÁ PARA CÁ OU VICE-VERSA

Ao longo dos anos, milhares de livros e quadrinhos foram adaptados para o universo cinematográfico. Algumas dessas obras obtiveram sucesso de bilheteria e crítica, outras com sucesso em um ou em outro e mais um grupo que não agradou a ninguém.

Algumas transposições, mesmo que comercialmente ruins, são bastante conhecidas. A seguir alguns exemplos.

 - Livros para filmes: Mary Poppins (1964); Senhor dos Anéis (2001, 2002 e 2003); A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971 e 2005); Orgulho e Preconceito (2005); Desejo e Reparação (2007); Harry Potter (oito filmes entre 2001 e 2011).

Capa do filme O Corvo, com Brandon LeeCapa do filme Mary Poppins, com Julie Andrews- Quadrinhos para filmes: Barbarella (1968); As Tartarugas Ninjas (1990); Dick Tracy (1990); O Corvo (1994); Homens de Preto (1997); V de Vingança (2006); heróis Marvel (X-Men, Homem-Aranha, Demolidor, Quarteto Fantástico, Motoqueiro Fantasma); heróis DC (Batman, Superman, Lanterna Verde).

- Música para filmes: Yellow Submarine (1968); Across the Universe (2007).

- Teatro para filmes: Hair (1979); Amadeus (1984); Lisbela e o Prisioneiro (2003); Hairspray (2007); Sweeney Todd: O barbeiro demoníaco da rua Fleet (2007).
Capa do filme Death Note, baseado no mangá homônimo

O Japão não foge a regra e investe bastante nisso. Podemos citar aqui:

- Sekai no chuushin ai wo sakebu (2003): livro para filme;
- Nana (2005 e 2006): mangá para filme;
- Death Note (2006 [2] e 2008): mangá para filme;
- Space Battleship Yamato (2010): animação para filme.

Logo, pode-se dizer que o caminho trilhado por Solanin foi bastante comum, mas conseguir o mesmo êxito das obras anteriormente citadas é outra história.

UM MANGÁ BOM PODE ORIGINAR UM FILME RUIM?

Capa das duas edições do mangá Solanin, da L&PM
Capa dos dois volumes que compõe
a íntegra do mangá lançado pela L&PM
Capa do filme japonês Solanin
Cartaz do filme
O grande mérito de Inio Asano em seus quadrinhos é a sensibilidade com que carrega sua trama. Seus personagens ganham vida na imaginação do leitor. Por mais que você possa não concordar com algumas de suas ações, ou algumas de suas situações, as páginas acabam rapidamente e muitos podem julgar que foi rápido até demais.

O ponto forte do mangá também está na presença destacada de seus coadjuvantes, composto unicamente pelos três amigos de faculdade de Meiko e Taneda, Jiro ‘Billy’ Yamada, Kenichi Kato e Ai Kotani, e outros dois que se somam ao grupo posteriormente, Ohashi e Ritsuko Ayukawa. Mas que vivem, além da trama central, uma história a parte.

Curiosamente, são os dois pontos aonde o filme vai pior.

O filme, por contar toda a história em um período de duas horas, corre demais e corta pedaços importantes do mangá. Os coadjuvantes são relegados a meros coadjuvantes. Não fica clara a relação entre Kenichi Kato e Ai Kotani. Nos quadrinhos, o autor afirma em diversos momentos que eles são namorados.

Cenas fortes no mangá soam caricatas no longa. Como por exemplo, o momento em que Billy imita a estátua de sapo que fica em frente a sua drogaria ou quando, depois de cantar Solanin, Meiko fica paralisada ao final da música e só depois que Billy ergue sua mão que a plateia aplaude o show.

Cena do mangá Solanin

O primeiro momento é extremamente cômico nos quadrinhos, porque ela faz sentido dentro do contexto apresentado mais claramente lá, mas no filme não é igual em muito pela fraca atuação do ator. Já o segundo momento peca pelo diretor desconsiderar as diferenças entre mídias. A cena funciona perfeitamente nos quadrinhos justamente por não deixar claro o tempo dispendido entre o final da música e o recebimento dela pelo público, tudo pode ter acontecido na cabeça da protagonista e rapidamente vêm os aplausos. No filme, não faz sentido porque em nenhum show a plateia fica quietinha esperando a banda dizer quando ela deve ou não aclamar o espetáculo.

Cena do filme Solanin

Outras cenas pecam pela falta de informação em momentos anteriores. Para exemplificar cito dois acontecimentos no final do filme. Billy fala para Meiko “você nos chamou e perguntou: vocês estão satisfeitos com suas vidas?” Só que no filme, ela procura apenas ele, nos quadrinhos vai atrás de todos, o que explicaria o “nos chamou” na frase.

Já quando a música começa, o executivo da produtora musical chega a tempo de ouvir Solanin, mas apenas estranha o fato de uma garota a frente da banda Rotti. Mas morre nisso, enquanto que na obra original ele vai atrás deles e explica que entendeu a lição de moral dada pelo já falecido Taneda.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cena do filme Solanin
Solanin, o longa-metragem, não é ruim. É fraco, alguns atores parecem caricaturar e não personificar os personagens, o que lesa ainda mais o andamento da história. Mas é ainda mais prejudicado por adaptar um quadrinho tão bem feito (triste e emocionante ao mesmo tempo) e com tantos detalhes e o fazê-lo tão a risca.

Se você aceitar uma recomendação, caso não tenha visto nenhuma das duas obras, assista primeiro o filme e depois parta para a história em quadrinhos. Talvez dessa maneira o longa ganhe alguns pontos com o espectador, mesmo que se perca um pouco de dramaticidade na leitura posterior.

Cena do mangá Solanin
SOLANIN (mangá)
Autor: Inio Asano
Editora: L&PM
Ano de lançamento: 2011

SOLANIN (filme)
Direção: Takahiro Miki
Atores: Aoi Miyazaki (Meiko Inoue), Kengo Kora (Naruo Taneda), Kenta Kiritani (Jiro ‘Billy’ Yamada), Yoichi Kondo (Kenichi Kato) e Ayumi Ito (Ai Kotani)
Ano de lançamento: 2010 (no Brasil, o filme não foi lançado oficialmente)
Produtora: Asahi Broadcasting Corporation

Confira o trailer do filme:

2 comentários:

  1. Gostei do mangá, embora seja um tema batido mesmo, o modo como o autor abordou a história a deixou bem interessante.

    Notei algumas referências ao Nirvana (a banda)na obra, como a morte precoce do Taneda (vocalista e guitarrista)o fato da banda dele ser um power trio e o mais reveledor: Taneda tocava uma Fender Mustang, modelo usado por Kurt Cobain.

    Talvez eu esteja "viajando" mas achei interessante essas coincidências.

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    Respostas
    1. Olha, como não sou ligado em Nirvana (nunca gostei!) não vi nada disso. Mas agora que chamou a atenção, até que faz certo sentido... vou pesquisar e ver se acho alguma coisa sobre isso na internet.

      Abraço e obrigado pelo comentário!

      Excluir

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