Authority - Sem perdão | Um grupo que dispensa adjetivos

O AUTHORITY é um grupo de heróis da extinta editora Wild Storm liderado por Jenny Sparks, uma inglesa capaz de gerar eletricidade. A equipe ainda conta com Meia-Noite, um sinistro lutador que veste capa e capuz negros; Apolo, um semideus com poderes alimentados pelo Sol; Jack Hawksmoor, que pode comandar as cidades; além da Engenheira, cujo maquinário líquido em seu corpo a torna apta a fazer qualquer coisa. Completam o time o Doutor, o Xamã da Terra e a mulher-pássaro Swift.

Se a descrição dos personagens lhe pareceu familiar demais, não estranhe. Isso foi feito de propósito.

Criado no final da década de 1990 por Warren Ellis e Bryan Hitch, o Authority é um supergrupo concebido para lidar com ameaças globais e faz isso à sua maneira. Isso significa não responder a nenhum governo e não medir esforços para proteger um inocente.

A seguir, você confere uma análise – praticamente sem spoilers – de Sem Perdão, o primeiro encadernado, publicado no Brasil pela Devir, reunindo as edições 1 a 8.

HERÓIS PODEM SER VIOLENTOS... MUITO VIOLENTOS!

Sem Perdão é composto por duas histórias. Na primeira delas, intitulada O Círculo, logo na primeira página vemos a cidade de Moscou sendo arrasada por um grupo de homens e mulheres com superpoderes, que trajam um macacão preto com um círculo com três nós em dourado.

Em seguida, dois funcionários da ONU, Jackson King e Cristine Trelane, lamentando a dissolução do antigo supergrupo Stormwatch – equipe de super-heróis dos primórdios da Wild Storm – e a sua impotência em relação ao momento de crise.

Justamente nesse ínterim, Jenny Sparks sai de um portal para dentro da sala solicitando informações sobre os agressores. King a pergunta sobre o que está aprontando, as respostas começam surgir e a moça – enquanto acende um dos muitos cigarros que fuma durante o volume – explica que ela e os membros do Stormwatch Black decidiram não ficar ociosos e começaram a reunir outros superseres. É aí que a personagem solta uma de suas célebres frases ao responder quem irá punir os terroristas: “uma autoridade superior”.

Na sequência, somos apresentados à Balsa, uma gigantesca nave – magistralmente descrita por Grant Morrison no prefácio do volume como tendo a forma de um focinho de cachorro –, que serve de quartel-general para os heróis e projeta portais em qualquer lugar do mundo que eles queiram (na verdade, eles desconhecem em parte as razões da existência da nave e isso entra em debate no futuro da saga).

Descobrimos também quem está por trás do ataque à Rússia e, durante uma sangrenta batalha em Londres, podemos ver tudo o que o Authority é capaz e que piedade com vilões não é uma opção para o grupo.

Enquanto pensam em uma estratégia para acabar com a ameaça de uma vez por todas, o relacionamento entre os heróis é aprofundado e o que aconteceu com o Engenheiro e o Doutor anteriores, que eram ligados ao Stormwatch, é explicado, respondendo algumas perguntas e criando outras. Para não revelar detalhes sobre a luta final e mantê-los curiosos, comento apenas que a primeira história termina com um aviso de Jenny: “meu nome é Jennifer Sparks do grupo Authority transmitindo em todas as frequências e idiomas: vocês não estão sozinhos”.

No segundo arco que compõe este volume, Alter-Naves, os inimigos dessa vez vêm de outra dimensão e, como não poderia deixar de ser, têm tecnologia superior à nossa. Os combates aéreos são retratados no melhor estilo Independence Day e as naves estranhamente carregam a bandeira da Inglaterra em suas caudas. Quando o Authority se envolve no conflito, ficamos sabendo que os atacantes são fruto de um lugar conhecido como Volúvel Albion, onde alguns humanos da nobreza se relacionaram com alienígenas de pele azul e criaram um império totalitário e cruel, que atende pelo nome de Volúvel Albion.

O mais impressionante, é que essa história é contada por Jenny Sparks, que já visitou Albion em sua juventude, durante a década de 1920. Nessa parte, também ficamos sabendo que a moça parou de envelhecer aos 20 anos, o que esclarece o apelido pelo qual ela é chamada pelo Doutor , “Espírito do Século XX”. O que se segue, é um combate regado a muita violência e palavras de baixo calão com os monarcas que regem aquela dimensão paralela. Depois da derrota dos vilões, a história termina com outra frase que é a síntese do supergrupo: “uma Terra já foi. Falta a outra”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Alguns mais acostumados aos quadrinhos convencionais do panteão Marvel/DC podem achar a ultraviolência da trupe de Jenny Sparks exagerada e até apelativa. Entretanto, acredito que os autores mostram que o Authority – embora pareça – não é a Liga da Justiça. Os personagens têm dúvidas, conflitos, fumam, bebem e ainda assim são super-heróis dispostos a salvar o mundo ao custo da própria vida, caso isso seja necessário.

O conceito de salvar o mundo também é levado a outro nível nas histórias do grupo. Ao final de cada história, ninguém “pendura a bandeira dos EUA de volta no mastro da Casa Branca”, como exemplifica Grant Morrison no prefácio. A HQ faz muitas referências à ONU e toma sempre muito cuidado para que nenhum país pareça “sair como herói” sempre. A própria equipe é multicultural. Jenny, por exemplo, é inglesa e Swift tem traços orientais.

Sobre os vilões, embora invasões alienígenas e de seres oriundos de dimensões paralelas que chegam para dominar a Terra já tenham se tornado clichê, em Authority isso não chega a cansar. Afinal, o grande trunfo da série é mostrar que a equipe está sempre disposta a lutar contra a toda e qualquer forma de ditadura. E, de preferência, deixando seus cruéis líderes com internos órgãos expostos no final da luta.

Olhando pelo ponto de vista técnico, os desenhos de Bryan Hitch – conhecido no Brasil pelo seu trabalho em Os Supremos – são impecáveis e complementados pelas cores de Laura Depuy e a arte-final de Paul Neary. Aliás, falando em Supremos, a abordagem de temas políticos na versão dos Vingadores para o Universo Ultimate da Marvel é nitidamente inspirada em Authority.

A editora Devir publicou no Brasil outros dois encadernados do grupo além de Sem Perdão: Sob Nova Direção, que mostra a entrada da nova equipe criativa composta por Frank Quitelly (Batman & Robin, WE3 – Instinto de Sobrevivência e etc.) e Mark Millar (Os Supremos, Kick Ass, Nemesis, entre outras) e Jenny Sparks – A história secreta do Authority. Mas eles são assunto para outros posts, quem sabe.

AUTHORITY - SEM PERDÃO
Títulos Original: The Authority: Reletless
Roteiro: Warren Ellis
Desenhos: Bryan Hitch
Arte-final: Paul Neary
Cores: Laura Depuy
Editora: Devir
Ano de lançamento: 2005
Quantidade de páginas: 200

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